
Depois de muito tempo sumido por aqui, resolvi fazer um novo post... E novamente sobre música. O que me fez sair do ostracismo foi o belíssimo trabalho da não menos bela Céu. Seu primeiro disco, que traz seu nome como título, mostrou que a cantora não era mais um nome efêmero no hall das cantoras que têm surgido nos últimos tempos. O Brasil é um país de cantoras, isso é inegável. A cada mês, surgem uma porção delas tentando um espaço no concorrido mercado fonográfico e, devido a essa concorrência desleal, sobram somente as especiais, aquelas que têm alguma coisa nova (e boa!) pra nos mostrar. E com a cantora Céu é assim... Depois de um belíssimo primeiro disco, Céu conseguiu se superar e mostrou que, de fato, é uma artista.
Vagarosa é seu segundo trabalho. Depois de 4 anos sem lançar nada de novo na praça, Céu lança seu segundo disco com a intenção de nos passar a idéia que dá título ao disco: lentidão, calmaria, descanso. Importante frisar, no entanto, que "Vagarosa" não é um disco preguiçoso e arrastado. Dizer isso seria fazer injustiça à cantora. A idéia do disco entra em contraste com a rotina frenética e movimentada dos dias de hoje: 24 horas tornou-se pouco diante da quantidade de coisa que temos pra fazer. Diante desse cenário urbano, cosmopolita, movimentado, talvez a intenção de Céu tenha sido realmente fazer um contraponto, mostrar o quão importante é um tempo de calmaria, de vagarosidade, de reflexão. Quem escuta o disco tem essa fundamental oportunidade.
O disco começa com uma faixa que funciona como um prólogo: anuncia o que está por vir nas demais músicas. O amor e seu trabalho silencioso é uma vinhetinha poderosa. Mostra que, como bocejo, o amor não precisa de uma linguagem verbal para se espalhar. Seu trabalho é realmente silencioso, um beijo é o suficiente para parar um baile, cessar o barulho e instalar uma disrritmia no coração. E feito bocejo, as 13 faixas do disco se espalham. Espalham-se belo ambiente, e torna-o vagaroso. São músicas que se acomodam confortavelmente na cabeça e parecem não querer sair de lá por um bom tempo.
O amor permeia todas as faixas do disco. O mais impressionante é observar o trabalho e o empenho da cantora em dar uma verdadeira unidade para seu disco. Ao contrário do que é comum observarmos em outros discos, neste, Céu conseguiu uma façanha admirável: Tornou o seu disco fechado, no melhor sentido que a palavra pode adquirir. O mesmo acorre com a escolha dos ritmos que percorrem as faixas: boa parte de "Vagarosa" é dedicado à variações de ritmos jamaicanos- reggae, ragga, e uma pitada de dub, deixando, ao contrário do seu primeiro trabalho, a música brasileira de lado em grande parte do tempo. O disco mostra algumas experimentações e misturas incríveis. É um CD que merece ser ouvido num fone. Nele, dá pra perceber todas as nuances da música e mais uma vez fica claro que este é um trabalho primoroso, que beira a perfeição.
Destaco aqui duas músicas incríveis do disco: Cangote, com participação de Thalma de Freitas e Anelis Assumpção e outra faixa com nada mais nada menos que Luiz Melodia. Nesta faixa, a "MPB tradicional" retorna, destoando um pouco das demais faixas do disco. O disco é repleto de feras e, por isso mesmo, não poderíamos esperar outro resultado senão o conseguido neste trabalho.
É uma pena que Céu ainda não tenha tido o reconhecimento que merece aqui no Brasil. Felizmente, sua agenda está lotada, só que a grande maioria dos seus shows acontecem no exterior. A cantora obteve grande sucesso de crítica em vários lugares do mundo. Os gringos sabem reconhecer o que é bom! Então, se você ainda não conhece essa cantora, tá esperando o quê? Seus dois trabalhos são primorosos e deixam um gostinho de quero mais. E essa é a melhor sensação que um disco pode causar em quem o escuta: a vontade de querer mais daquilo. E Céu conseguiu fazer isso como ninguém.
A última dica do post vai para uma regravação de um samba gravado por Martinho da Vila: Visgo de Jaca. No início de 2009, Céu lançou um EP com 4 faixas. Dessas 4, apenas Visgo de Jaca ficou de fora do seu último trabalho. Fica a dúvida do que levou Céu a optar por tirá-la do trabalho. Talvez não seguisse a linha do "vagarosamente" citado anteriormente. Então fica a dica! Vale a pena!