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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Um presente do Céu!


Depois de muito tempo sumido por aqui, resolvi fazer um novo post... E novamente sobre música. O que me fez sair do ostracismo foi o belíssimo trabalho da não menos bela Céu. Seu primeiro disco, que traz seu nome como título, mostrou que a cantora não era mais um nome efêmero no hall das cantoras que têm surgido nos últimos tempos. O Brasil é um país de cantoras, isso é inegável. A cada mês, surgem uma porção delas tentando um espaço no concorrido mercado fonográfico e, devido a essa concorrência desleal, sobram somente as especiais, aquelas que têm alguma coisa nova (e boa!) pra nos mostrar. E com a cantora Céu é assim... Depois de um belíssimo primeiro disco, Céu conseguiu se superar e mostrou que, de fato, é uma artista.
Vagarosa é seu segundo trabalho. Depois de 4 anos sem lançar nada de novo na praça, Céu lança seu segundo disco com a intenção de nos passar a idéia que dá título ao disco: lentidão, calmaria, descanso. Importante frisar, no entanto, que "Vagarosa" não é um disco preguiçoso e arrastado. Dizer isso seria fazer injustiça à cantora. A idéia do disco entra em contraste com a rotina frenética e movimentada dos dias de hoje: 24 horas tornou-se pouco diante da quantidade de coisa que temos pra fazer. Diante desse cenário urbano, cosmopolita, movimentado, talvez a intenção de Céu tenha sido realmente fazer um contraponto, mostrar o quão importante é um tempo de calmaria, de vagarosidade, de reflexão. Quem escuta o disco tem essa fundamental oportunidade.
O disco começa com uma faixa que funciona como um prólogo: anuncia o que está por vir nas demais músicas. O amor e seu trabalho silencioso é uma vinhetinha poderosa. Mostra que, como bocejo, o amor não precisa de uma linguagem verbal para se espalhar. Seu trabalho é realmente silencioso, um beijo é o suficiente para parar um baile, cessar o barulho e instalar uma disrritmia no coração. E feito bocejo, as 13 faixas do disco se espalham. Espalham-se belo ambiente, e torna-o vagaroso. São músicas que se acomodam confortavelmente na cabeça e parecem não querer sair de lá por um bom tempo.
O amor permeia todas as faixas do disco. O mais impressionante é observar o trabalho e o empenho da cantora em dar uma verdadeira unidade para seu disco. Ao contrário do que é comum observarmos em outros discos, neste, Céu conseguiu uma façanha admirável: Tornou o seu disco fechado, no melhor sentido que a palavra pode adquirir. O mesmo acorre com a escolha dos ritmos que percorrem as faixas: boa parte de "Vagarosa" é dedicado à variações de ritmos jamaicanos- reggae, ragga, e uma pitada de dub, deixando, ao contrário do seu primeiro trabalho, a música brasileira de lado em grande parte do tempo. O disco mostra algumas experimentações e misturas incríveis. É um CD que merece ser ouvido num fone. Nele, dá pra perceber todas as nuances da música e mais uma vez fica claro que este é um trabalho primoroso, que beira a perfeição.
Destaco aqui duas músicas incríveis do disco: Cangote, com participação de Thalma de Freitas e Anelis Assumpção e outra faixa com nada mais nada menos que Luiz Melodia. Nesta faixa, a "MPB tradicional" retorna, destoando um pouco das demais faixas do disco. O disco é repleto de feras e, por isso mesmo, não poderíamos esperar outro resultado senão o conseguido neste trabalho.
É uma pena que Céu ainda não tenha tido o reconhecimento que merece aqui no Brasil. Felizmente, sua agenda está lotada, só que a grande maioria dos seus shows acontecem no exterior. A cantora obteve grande sucesso de crítica em vários lugares do mundo. Os gringos sabem reconhecer o que é bom! Então, se você ainda não conhece essa cantora, tá esperando o quê? Seus dois trabalhos são primorosos e deixam um gostinho de quero mais. E essa é a melhor sensação que um disco pode causar em quem o escuta: a vontade de querer mais daquilo. E Céu conseguiu fazer isso como ninguém.
A última dica do post vai para uma regravação de um samba gravado por Martinho da Vila: Visgo de Jaca. No início de 2009, Céu lançou um EP com 4 faixas. Dessas 4, apenas Visgo de Jaca ficou de fora do seu último trabalho. Fica a dúvida do que levou Céu a optar por tirá-la do trabalho. Talvez não seguisse a linha do "vagarosamente" citado anteriormente. Então fica a dica! Vale a pena!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ana em Fá!

Ana Cañas foi, sem dúvida, pra mim, o grande nome da nova safra de cantoras que tem surgido no cenário musical brasileiro. Dentre tantos nomes de peso, como Mariana Aydar, Roberta Sá, Maria Gadú, Marina De La Riva, Cibelle e Céu, Ana Cañas conseguiu se destacar, misturando blues, jazz, rock, pop e raggae. Uma mistura que, surpreendentemente, deu samba! Com seu segundo disco- que tem o poder de erguer ou jogar de vez no lixo uma nova promessa-, ela conseguiu mostrar a que veio e revelou-se uma cantora diferente, uma cantora de personalidade. Saindo da sombra de veteranas como Marisa Monte e até mesmo grandes nomes da música internacional, como Ella Fitzgerald, Ana Cañas veio com tudo e mostrou que talento é seu novo sobrenome.
O seu primeiro disco, Amor e Caos, apesar de trazer um bom repertório, não mostrou o verdadeiro potencial da cantora. O primeiro disco, como é de se esperar, não dá margem para experimentações. Por isso mesmo, Ana apostou em grandes composições, como Coração Vagabundo, do Caetano, e Rainy Day Women, do Bob Dylan, para não ter erro. E sem dúvida o resultado foi bastante satisfatório. O artista está alí, em seu primeiro disco, para se auto-afirmar, e Ana fez isso como ninguém, a ponto de escrever uma música chamada "A Ana".
Em seu segundo disco as coisas mudam. "Hein?" foge da máxima "em time que ganha não se mexe" e traz 11 faixas assinadas pela cantora, de um total de 12 faixas. E devo dizer que o resultado foi, sem dúvida, mais um ganho- e dos grandes- para a cantora. Contando com um time repleto de estrelas, que vão desde Gilberto Gil a Arnaldo Antunes, o resultado é excepcional.
Ouvindo o disco, percebemos logo de cara, com a música de abertura, uma influência inegável da banda Os Mutantes. Essa faixa dá o tino de como será o decorrer do quase 1 hora de música da boa: Ana sai do repertório jazzistico e clássico, da levada mais bossa nova, e aposta na mistura do rock com outros gêneros musicais. O resultado final é um grande mosaico, onde encontramos diversos gêneros musicais: Um disco colorido, com todas as músicas diferentes entre si.
A impressão que dá, com esse segundo disco da cantora, é que Ana encontrou uma nova identidade. Ana Cañas, nesse disco, solta a voz sem medo, brinca com os sons e revela-se uma grande artista. Mesclando rock com momentos suaves, a dica é colocar o CD no som, aumentar o volume e não se preocupar em mudar de faixa. Esse é um disco que não pode faltar na sua coleção, tá me entendendo?
-Hein?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O começo, o fim... e um novo começo!



Acredito que todo mundo já levantou um dia da cama com o pé esquerdo, olhou ao redor, fez uma recapitulada de tudo que está ou esteve fazendo, e chegou a fatídica conclusão de que a vida que leva não é necessariamente a vida que pediu a Deus.... Em outras palavras, todo mundo já chegou a lamentável conclusão: Tá tudo uma merda! E é a essa conclusão que chegam também as protagonistas do filme que dá vida a este post: Thelma e Louise. Só que elas, ao contrário de muita gente, tentam de alguma forma dar uma sacudida na vida, experimentar novas experiências e... ser feliz!
Eu não gosto de quem critica "racionalmente" esse filme, dizendo que o conceito do filme é discutível, com aquela velha ladainha que diz que a mulher, para se afirmar, não precisa fazer a mesma trajetória do homem- trajetória repleta de galinhagem e violência. Essas pessoas esquecem que, de fato, Thelma & Louise é incontestavelmente feminista, porém a mensagem passada pelo roteiro vai muito além do mero levante de bandeiras. É, sobretudo, um desabafo, um hino à liberdade, ao foda-se tudo!.. Posto isto, quero dizer que enxergo, então, este filme com outros olhos e findo aqui esse papo de feminismo, machismo, etc, etc, etc... Vamos ao que interessa!
O filme nos conta a história de duas amigas que, cansadas da vida monótona que levam, decidem deixar tudo de lado e partir numa aventura de um fim de semana. Só que, como era de se esperar, algumas coisas não saem como o planejado e nos deparamos com deliciosas- e por vezes tensas- situações que fugiram do controle das duas. Um final de semana que, sem dúvida, muda de maneira radical a vida das protagonistas.
O filme começa mostrando o contraste que existe entre o modo como Louise e Thelma levam as suas vidas: A primeira, garçonete, a segunda, a típica dona de casa. Uma decidida, a outra sonhadora; uma dona de si, a outra submissa; uma maliciosa, a outra ingênua; uma que comanda e a outra que é "comandável". Mesmo com tantas diferenças na personalidade, a amizade que existe entre ambas é palpável: as atuações perfeitas de Susan Sarandon e Geena Davis é, talvez, o grande responsável por esse elo tão verossível. A relação entre as duas é tão vibrante e inconsequente, que nos deixa imediatamente encantados, admirados.
O que chama atenção no filme é o modo como vai sendo construído e apresentado ambas: fica claro desde o início, que Thelma e Louise podem ser a vizinha da frente, a garçote do restaurante preferido, a atendente da padaria, a presidenta de uma multinacional... Em outras palavras, são mulheres normais. De fácil identificação. Nada estereotipadas. E é justamente por isso que é quase impossível não se apaixonar pelas duas e, igualmente impossível, não compactuar com todas as decisões tomadas por elas no decorrer da trajetória. Importante ressaltar que não é um filme feito para mulheres, e sim, um filme sobre mulheres.
É inegavél também a transformação pela qual passam as amigas: Louise, que no início mostra-se dura e forte, passa a deixar essa "armadura" de lado, e revela-se uma mulher carinhosa e maleável. Thelma, por sua vez, parece que amadurece com o decorrer da viagem, e torna-se uma mulher mais decidida e dona de si. E isso fica bastante evidente na cena final do filme, em que Thelma quem diz o que fazer, e não Louise, como acontecia na maior parte do filme.
O filme é recheado de cenas sublimes, como a cena do caminhoneiro tarado que as seguem e acaba tendo seu caminhão explodido pelas duas. É incrível! Mas não dá pra não falar da cena final, a cena que fica gravada na cabeça e no coração de todo mundo que assiste ao filme: O beijo entre as duas, as mãos dadas, a escolha do caminho libertador, a corrida desesperada, a câmera lenta, a foto voando ao vento, "Let’s keep going", enfim, um cheiro de liberdade iminente. E o meu coração palpitando, uma tremedeira no ombro, um soco no estômago... Sem dúvida, a trajetória de Thelma e Louise nos deixa uma belíssima história de vida.
De arrepiar!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Um negrinho aqui está a sós....



Agatha Christie é mundialmente conhecida por seus romances cheios de suspenses e enigmas. É uma romancista policial, conhecida- para se ter idéia- como a Duquesa da Morte e Rainha do Crime. De fato, quem conhece a obra da autora em questão, consegue constatar que tais apelidos deveriam fazer parte do seu sobrenome.
O post de hoje faz referência ao talvez mais famoso romance da autora- O caso dos Dez Negrinhos. Fazendo uma pesquisa rápida aqui na internet, cheguei a curiosa informação de que o título do livro causou certa polêmica, devido ao uso de "negrinhos". Por conta disso, nos EUA, e posteriormente aqui no Brasil, o romance foi retitulado (perdoem-me o neologismo!!!) para E Não Sobrou Nenhum. Eu, particularmente, prefiro o título original, que faz alusão à uma cantiga popular da Inglaterra. Preconceito ou não, isso não vem ao caso, pois o foco dado aqui será outro... Ainda bem, diga-se de passagem!!
A história começa com a apresentação dos 10 personagens que vão fazer parte da narrativa. Eles foram convidados por um tal de U. N. Owen para passar um veraneio na Ilha do Negro. São 10 personagens que não se conhecem entre si- cada um deles convidados por um motivo especial. Quando todos encontram-se na luxuosa mansão moderna construída nessa Ilha Particular, inicia-se uma séria de assassinatos que seguem precisamente (ou em parte) a cantiga popular- já citada anteriormente- que foi emoldurada e pregada nos quarto de todos os hóspedes. Seguindo esse fio condutor, Agatha Christie desenrola uma engenhosa narrativa policial, regada por muito suspense e com um desfecho antológico.
Sem dúvida, assim como ocorre com outros romances da mesma autora, O Caso dos Dez Negrinhos atinge o leitor a partir de dois eixos básicos: o enigma e, sobretudo, o suspense: De uma lado, o enigma relaciona-se com a história do inquérito, a busca do passado. De outro, o suspense, que tem muita relação com o presente, com o perigo, com viver emoções. Esses dois elementos são fundamentais para fisgar o leitor desde a leitura da primeira página. É impressionante como a autora consegue conduzir a narrativa da maneira certa, prolongando o clímax, mas sem tornar a leitura enjoativa, maçante. Nem preciso dizer que não há como parar de ler: Acredito que todo mundo quer entender como- e por quê- os assassinatos ocorrem. E, claro, por quem. São 10 personagens, 10 suspeitos.
Como se vê, a "arquitetura" desse romance torna-o demasiadamente interessante. Assim como nos filmes de suspense a expectativa está presente a todo momento, com os diálogos, os enquadramentos, a trilha sonora ajudando a dar esse clima de medo e tensão, nesse livro, os elementos narrativos também contribuem de forma a gerar e acentuar essa expectativa, esse suspense: A larga utilização de adjetivos, a construção cuidadosa do ambiente- onde percebemos a imensidão da ilha isolada diante dos indefesos novos hóspedes-, a descrição detalhada de uma personalidade duvidosa e ambígua para todos os personagens e a narrativa ser conduzida em 3ª pessoa são apenas alguns exemplos.
Alguns autores de livros policiais, como é o caso de Sydney Sheldon, dão ao leitor a possibilidade de desvendar o mistério da história. Eu, particularmente, não acho que isso ocorra nesse livro em específico. O próprio fato do livro ser narrado em terceira pessoa, possibilita que sejam ocultados alguns fatos importantes. O fato é que o livro apresenta uma ótima história, que é conduzida de maneira perfeita e termina com um desfecho impagável. Eu adoro ler romances policiais e ser surpreendido com o desfecho, e confesso que nesse caso, o desfecho é realmente inacreditável, inconcebível, admirável. Diante do exposto, acho que dá pra ter uma noção do porquê tal obra figura entre uma as mais importantes da autora e porquê causa tanta admiração entre os fãs dos chamados romances policiais.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Matou a cobra e mostrou... O PAU



Fernanda Young, sem dúvida, é o típico caso de amor ou ódio. Sem meio termo. Falar dela é sinônimo de irreverência, inteligência, sarcasmo e polêmica, muita polêmica! Volta e meia ela aparece por aí, seja por suas declarações controversas, seja por seus roteiros politicamente incorretos, ou seja pelos seus romances de grande sucesso de público, mas de crítica nem tanto... Esse ano Fernanda Young veio com tudo: De coelhinha da Playboy à romancista, devo dizer que ela não me decepcionou. O post de hoje faz referência ao seu mais recente livro, O Pau.
O romance conta a história de Adriana, uma renomada e bem sucedida designer de jóias que se envolve com um rapaz 14 anos mais jovem e acaba sendo traída. Sentindo-se injustiçada, mais que isso, humilhada, Adriana vai fundo na vingança: Ela elabora um plano bastante pretensioso para, simbolicamente, cortar o que para ela o homem tem de mais precioso- o pau. Esse é o fio condutor do romance que tinha tudo pra ser trágico, mas parece que Fernanda optou pelo humor mais evidente, por vezes até escrachado.
A primeira coisa que chama atenção no livro é a inegável semelhança que existe entre a protagonista e a própria autora. Assim como Fernanda nos mostra, neste romance, que as baratas gigantes de Madagascar têm muitas semelhanças com o pênis masculino (!), autora e personagem, neste caso, possuem semelhanças inegáveis. Por exemplo, Fernanda e Adriana são designer de jóias, têm admiração pela cantora Adriana Calcanhotto, são mulheres bem sucedidas naquilo que fazem, ambas estão beirando os tão temidos 40 anos. Essas semelhanças são curiosas, e acredito que Fernanda buscou inspiração nela mesma para construir um personagem verdadeiro. Verdadeiro no sentido de ser verossímil, quase palpável, que causa identificação imediata com o leitor.
Adriana divide a cena com o seu mais recente namorado. Mas o fato é que o rapaz é mero coadjuvante da história, porque esse é um livro que quer mostrar a história de vida de Adriana, uma mulher comum, uma mulher que pode ser você, leitora, ou qualquer outra mulher que se sente traída e tem sede de vingança. E como diz Fernanda Youg, "as mulheres querem se vingar de tudo e de todos" Nesse caso, Adriana, apaixonada por um homem mais novo, acaba se decepcionando de tal maneira que não vê outra saída além de se vingar terrivelmente.
O engraçado é perceber o contraste que existe entre Adriana- a profissional e Adriana- a amiga, a namorada, a amante, a mulher. De um lado, temos uma Adriana forte e decidida; de outro, temos uma Adriana frágil e inconstante. A impressão que fica é que Adriana se utiliza de um mecanismo de defesa muito utilizado pelas mulheres: veste-se com uma armadura que a torna forte por fora, mas no fundo revela-se uma mulher extremamente frágil e infantil. A passagem que mostra quando Adriana chora no avião, porque não tem cerveja gelada, é bem ilustrativa.
Por meio de muitas explicações e divagações, que vão desde os Reflexos Pavlovianos, até uma pitada do Complexo de Édipo, de Freud, Fernanda Young tenta mostrar como, de alguma forma, a idéia que diz que a "ditadura do falo" acabou por colocar a mulher em uma posição inferior diante do homem e diante da sociedade é equivocada. Fernanda tenta mostrar que, na verdade, homens e mulheres são iguais. Nas palavras de Adriana: "...nunca mais mesmo, irei dar tanta confiança às diferenças entre o homem e a mulher. Sou crente de uma nova verdade: a de que somos iguais".
Contrariando a teoria freudiana, Fernanda Young mostra que o pênis, historicamente associado ao poder dos homens e à inveja feminina, nada mais é que uma “extensão de músculos, vasos dilatadores e carne”. Sim, apenas um pedaço de carne que tem o poder de tornar o corpo que o sustenta em prisioneiro. Sob essa perspectiva, a ditadura do falo existe, sim, mas, segundo a autora, são os homens que estão submetidos a ela. Em outras palavras (grossas palavras, diga-se de passagem!), a mensagem que Fernanda Young quer passar é que, confirmando o ditado popular, homem só pensa com a cabeça do... Pau.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Fogo e Gasolina



Surpresa! Essa é a palavra que define meu sentimento em relação ao show "Pra se ter Alegria", da talentosíssima cantora Roberta Sá. O show é uma explosão de cores e alegria, num repertório que percorre músicas inéditas do seu novo CD e músicas que já estão na boca do povo, de consagrados compositores, como o samba "Pelas Tabelas", do Chico.
Ao abrir as cortinas, vemos uma Roberta Sá vestida num volumoso vestido rosa, num cenário de cores vibrantes: clima que me lembrou os cenários Almodovarianos- cores fortes, tons de vermelhos, rosas e alaranjados intensos- lindíssimo! Confesso que toda a admiração diante do cenário não se faz presente no primeiro momento do show: toda aquela vibração de cores, contrastou com uma Roberta Sá fria e sem vida. Até a gostossíma e animada música "Eu Sambo Mesmo", de Janet de Almeida, não levantou a platéia! Embora o início tenha ficado nesse clima ameno, quase no Pólo Norte, não tem como negar que no quesito afinação, a moça dá um show!
Para minha alegria, no entanto, já na quarta música do show o clima começa a esquentar e passamos da era glacial para os tempos de aquecimento global: impressionante como a gravação de "Interessa?" é perfeita na voz da cantora! Esse animado sambinha animou não só à platéia, como a própria cantora, que se livrando daquele vestido volumoso do início do show, começa a tomar conta do palco com sua presença forte, dançando lindamente!
Esse clima de alegria e festa, para minha surpresa, continuou numa crescente e explodiu na música do Chico- já citada- "Pelas Tabelas". Rodopiando pelo palco, o novo talento da MPB conseguiu mostrar que aquele era, de fato, um belo dia pra se ter alegria! Tirando alguns pequenos erros técnicos, o show- desde o figurino até a seleção do repertório- foi definitivamente perfeito.
Como fogo e gasolina, o show termina nessa erupção de cores, alegria, música da boa, dança, e sorrisos... Muitos sorrisos! Uma verdadeira festa. Roberta Sá mostrou a que veio com esse show e definitivamente tem seu lugar garantido no hall das grandes estrelas da música brasileira.