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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Matou a cobra e mostrou... O PAU



Fernanda Young, sem dúvida, é o típico caso de amor ou ódio. Sem meio termo. Falar dela é sinônimo de irreverência, inteligência, sarcasmo e polêmica, muita polêmica! Volta e meia ela aparece por aí, seja por suas declarações controversas, seja por seus roteiros politicamente incorretos, ou seja pelos seus romances de grande sucesso de público, mas de crítica nem tanto... Esse ano Fernanda Young veio com tudo: De coelhinha da Playboy à romancista, devo dizer que ela não me decepcionou. O post de hoje faz referência ao seu mais recente livro, O Pau.
O romance conta a história de Adriana, uma renomada e bem sucedida designer de jóias que se envolve com um rapaz 14 anos mais jovem e acaba sendo traída. Sentindo-se injustiçada, mais que isso, humilhada, Adriana vai fundo na vingança: Ela elabora um plano bastante pretensioso para, simbolicamente, cortar o que para ela o homem tem de mais precioso- o pau. Esse é o fio condutor do romance que tinha tudo pra ser trágico, mas parece que Fernanda optou pelo humor mais evidente, por vezes até escrachado.
A primeira coisa que chama atenção no livro é a inegável semelhança que existe entre a protagonista e a própria autora. Assim como Fernanda nos mostra, neste romance, que as baratas gigantes de Madagascar têm muitas semelhanças com o pênis masculino (!), autora e personagem, neste caso, possuem semelhanças inegáveis. Por exemplo, Fernanda e Adriana são designer de jóias, têm admiração pela cantora Adriana Calcanhotto, são mulheres bem sucedidas naquilo que fazem, ambas estão beirando os tão temidos 40 anos. Essas semelhanças são curiosas, e acredito que Fernanda buscou inspiração nela mesma para construir um personagem verdadeiro. Verdadeiro no sentido de ser verossímil, quase palpável, que causa identificação imediata com o leitor.
Adriana divide a cena com o seu mais recente namorado. Mas o fato é que o rapaz é mero coadjuvante da história, porque esse é um livro que quer mostrar a história de vida de Adriana, uma mulher comum, uma mulher que pode ser você, leitora, ou qualquer outra mulher que se sente traída e tem sede de vingança. E como diz Fernanda Youg, "as mulheres querem se vingar de tudo e de todos" Nesse caso, Adriana, apaixonada por um homem mais novo, acaba se decepcionando de tal maneira que não vê outra saída além de se vingar terrivelmente.
O engraçado é perceber o contraste que existe entre Adriana- a profissional e Adriana- a amiga, a namorada, a amante, a mulher. De um lado, temos uma Adriana forte e decidida; de outro, temos uma Adriana frágil e inconstante. A impressão que fica é que Adriana se utiliza de um mecanismo de defesa muito utilizado pelas mulheres: veste-se com uma armadura que a torna forte por fora, mas no fundo revela-se uma mulher extremamente frágil e infantil. A passagem que mostra quando Adriana chora no avião, porque não tem cerveja gelada, é bem ilustrativa.
Por meio de muitas explicações e divagações, que vão desde os Reflexos Pavlovianos, até uma pitada do Complexo de Édipo, de Freud, Fernanda Young tenta mostrar como, de alguma forma, a idéia que diz que a "ditadura do falo" acabou por colocar a mulher em uma posição inferior diante do homem e diante da sociedade é equivocada. Fernanda tenta mostrar que, na verdade, homens e mulheres são iguais. Nas palavras de Adriana: "...nunca mais mesmo, irei dar tanta confiança às diferenças entre o homem e a mulher. Sou crente de uma nova verdade: a de que somos iguais".
Contrariando a teoria freudiana, Fernanda Young mostra que o pênis, historicamente associado ao poder dos homens e à inveja feminina, nada mais é que uma “extensão de músculos, vasos dilatadores e carne”. Sim, apenas um pedaço de carne que tem o poder de tornar o corpo que o sustenta em prisioneiro. Sob essa perspectiva, a ditadura do falo existe, sim, mas, segundo a autora, são os homens que estão submetidos a ela. Em outras palavras (grossas palavras, diga-se de passagem!), a mensagem que Fernanda Young quer passar é que, confirmando o ditado popular, homem só pensa com a cabeça do... Pau.

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