Colaboradores

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Um negrinho aqui está a sós....



Agatha Christie é mundialmente conhecida por seus romances cheios de suspenses e enigmas. É uma romancista policial, conhecida- para se ter idéia- como a Duquesa da Morte e Rainha do Crime. De fato, quem conhece a obra da autora em questão, consegue constatar que tais apelidos deveriam fazer parte do seu sobrenome.
O post de hoje faz referência ao talvez mais famoso romance da autora- O caso dos Dez Negrinhos. Fazendo uma pesquisa rápida aqui na internet, cheguei a curiosa informação de que o título do livro causou certa polêmica, devido ao uso de "negrinhos". Por conta disso, nos EUA, e posteriormente aqui no Brasil, o romance foi retitulado (perdoem-me o neologismo!!!) para E Não Sobrou Nenhum. Eu, particularmente, prefiro o título original, que faz alusão à uma cantiga popular da Inglaterra. Preconceito ou não, isso não vem ao caso, pois o foco dado aqui será outro... Ainda bem, diga-se de passagem!!
A história começa com a apresentação dos 10 personagens que vão fazer parte da narrativa. Eles foram convidados por um tal de U. N. Owen para passar um veraneio na Ilha do Negro. São 10 personagens que não se conhecem entre si- cada um deles convidados por um motivo especial. Quando todos encontram-se na luxuosa mansão moderna construída nessa Ilha Particular, inicia-se uma séria de assassinatos que seguem precisamente (ou em parte) a cantiga popular- já citada anteriormente- que foi emoldurada e pregada nos quarto de todos os hóspedes. Seguindo esse fio condutor, Agatha Christie desenrola uma engenhosa narrativa policial, regada por muito suspense e com um desfecho antológico.
Sem dúvida, assim como ocorre com outros romances da mesma autora, O Caso dos Dez Negrinhos atinge o leitor a partir de dois eixos básicos: o enigma e, sobretudo, o suspense: De uma lado, o enigma relaciona-se com a história do inquérito, a busca do passado. De outro, o suspense, que tem muita relação com o presente, com o perigo, com viver emoções. Esses dois elementos são fundamentais para fisgar o leitor desde a leitura da primeira página. É impressionante como a autora consegue conduzir a narrativa da maneira certa, prolongando o clímax, mas sem tornar a leitura enjoativa, maçante. Nem preciso dizer que não há como parar de ler: Acredito que todo mundo quer entender como- e por quê- os assassinatos ocorrem. E, claro, por quem. São 10 personagens, 10 suspeitos.
Como se vê, a "arquitetura" desse romance torna-o demasiadamente interessante. Assim como nos filmes de suspense a expectativa está presente a todo momento, com os diálogos, os enquadramentos, a trilha sonora ajudando a dar esse clima de medo e tensão, nesse livro, os elementos narrativos também contribuem de forma a gerar e acentuar essa expectativa, esse suspense: A larga utilização de adjetivos, a construção cuidadosa do ambiente- onde percebemos a imensidão da ilha isolada diante dos indefesos novos hóspedes-, a descrição detalhada de uma personalidade duvidosa e ambígua para todos os personagens e a narrativa ser conduzida em 3ª pessoa são apenas alguns exemplos.
Alguns autores de livros policiais, como é o caso de Sydney Sheldon, dão ao leitor a possibilidade de desvendar o mistério da história. Eu, particularmente, não acho que isso ocorra nesse livro em específico. O próprio fato do livro ser narrado em terceira pessoa, possibilita que sejam ocultados alguns fatos importantes. O fato é que o livro apresenta uma ótima história, que é conduzida de maneira perfeita e termina com um desfecho impagável. Eu adoro ler romances policiais e ser surpreendido com o desfecho, e confesso que nesse caso, o desfecho é realmente inacreditável, inconcebível, admirável. Diante do exposto, acho que dá pra ter uma noção do porquê tal obra figura entre uma as mais importantes da autora e porquê causa tanta admiração entre os fãs dos chamados romances policiais.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Matou a cobra e mostrou... O PAU



Fernanda Young, sem dúvida, é o típico caso de amor ou ódio. Sem meio termo. Falar dela é sinônimo de irreverência, inteligência, sarcasmo e polêmica, muita polêmica! Volta e meia ela aparece por aí, seja por suas declarações controversas, seja por seus roteiros politicamente incorretos, ou seja pelos seus romances de grande sucesso de público, mas de crítica nem tanto... Esse ano Fernanda Young veio com tudo: De coelhinha da Playboy à romancista, devo dizer que ela não me decepcionou. O post de hoje faz referência ao seu mais recente livro, O Pau.
O romance conta a história de Adriana, uma renomada e bem sucedida designer de jóias que se envolve com um rapaz 14 anos mais jovem e acaba sendo traída. Sentindo-se injustiçada, mais que isso, humilhada, Adriana vai fundo na vingança: Ela elabora um plano bastante pretensioso para, simbolicamente, cortar o que para ela o homem tem de mais precioso- o pau. Esse é o fio condutor do romance que tinha tudo pra ser trágico, mas parece que Fernanda optou pelo humor mais evidente, por vezes até escrachado.
A primeira coisa que chama atenção no livro é a inegável semelhança que existe entre a protagonista e a própria autora. Assim como Fernanda nos mostra, neste romance, que as baratas gigantes de Madagascar têm muitas semelhanças com o pênis masculino (!), autora e personagem, neste caso, possuem semelhanças inegáveis. Por exemplo, Fernanda e Adriana são designer de jóias, têm admiração pela cantora Adriana Calcanhotto, são mulheres bem sucedidas naquilo que fazem, ambas estão beirando os tão temidos 40 anos. Essas semelhanças são curiosas, e acredito que Fernanda buscou inspiração nela mesma para construir um personagem verdadeiro. Verdadeiro no sentido de ser verossímil, quase palpável, que causa identificação imediata com o leitor.
Adriana divide a cena com o seu mais recente namorado. Mas o fato é que o rapaz é mero coadjuvante da história, porque esse é um livro que quer mostrar a história de vida de Adriana, uma mulher comum, uma mulher que pode ser você, leitora, ou qualquer outra mulher que se sente traída e tem sede de vingança. E como diz Fernanda Youg, "as mulheres querem se vingar de tudo e de todos" Nesse caso, Adriana, apaixonada por um homem mais novo, acaba se decepcionando de tal maneira que não vê outra saída além de se vingar terrivelmente.
O engraçado é perceber o contraste que existe entre Adriana- a profissional e Adriana- a amiga, a namorada, a amante, a mulher. De um lado, temos uma Adriana forte e decidida; de outro, temos uma Adriana frágil e inconstante. A impressão que fica é que Adriana se utiliza de um mecanismo de defesa muito utilizado pelas mulheres: veste-se com uma armadura que a torna forte por fora, mas no fundo revela-se uma mulher extremamente frágil e infantil. A passagem que mostra quando Adriana chora no avião, porque não tem cerveja gelada, é bem ilustrativa.
Por meio de muitas explicações e divagações, que vão desde os Reflexos Pavlovianos, até uma pitada do Complexo de Édipo, de Freud, Fernanda Young tenta mostrar como, de alguma forma, a idéia que diz que a "ditadura do falo" acabou por colocar a mulher em uma posição inferior diante do homem e diante da sociedade é equivocada. Fernanda tenta mostrar que, na verdade, homens e mulheres são iguais. Nas palavras de Adriana: "...nunca mais mesmo, irei dar tanta confiança às diferenças entre o homem e a mulher. Sou crente de uma nova verdade: a de que somos iguais".
Contrariando a teoria freudiana, Fernanda Young mostra que o pênis, historicamente associado ao poder dos homens e à inveja feminina, nada mais é que uma “extensão de músculos, vasos dilatadores e carne”. Sim, apenas um pedaço de carne que tem o poder de tornar o corpo que o sustenta em prisioneiro. Sob essa perspectiva, a ditadura do falo existe, sim, mas, segundo a autora, são os homens que estão submetidos a ela. Em outras palavras (grossas palavras, diga-se de passagem!), a mensagem que Fernanda Young quer passar é que, confirmando o ditado popular, homem só pensa com a cabeça do... Pau.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Fogo e Gasolina



Surpresa! Essa é a palavra que define meu sentimento em relação ao show "Pra se ter Alegria", da talentosíssima cantora Roberta Sá. O show é uma explosão de cores e alegria, num repertório que percorre músicas inéditas do seu novo CD e músicas que já estão na boca do povo, de consagrados compositores, como o samba "Pelas Tabelas", do Chico.
Ao abrir as cortinas, vemos uma Roberta Sá vestida num volumoso vestido rosa, num cenário de cores vibrantes: clima que me lembrou os cenários Almodovarianos- cores fortes, tons de vermelhos, rosas e alaranjados intensos- lindíssimo! Confesso que toda a admiração diante do cenário não se faz presente no primeiro momento do show: toda aquela vibração de cores, contrastou com uma Roberta Sá fria e sem vida. Até a gostossíma e animada música "Eu Sambo Mesmo", de Janet de Almeida, não levantou a platéia! Embora o início tenha ficado nesse clima ameno, quase no Pólo Norte, não tem como negar que no quesito afinação, a moça dá um show!
Para minha alegria, no entanto, já na quarta música do show o clima começa a esquentar e passamos da era glacial para os tempos de aquecimento global: impressionante como a gravação de "Interessa?" é perfeita na voz da cantora! Esse animado sambinha animou não só à platéia, como a própria cantora, que se livrando daquele vestido volumoso do início do show, começa a tomar conta do palco com sua presença forte, dançando lindamente!
Esse clima de alegria e festa, para minha surpresa, continuou numa crescente e explodiu na música do Chico- já citada- "Pelas Tabelas". Rodopiando pelo palco, o novo talento da MPB conseguiu mostrar que aquele era, de fato, um belo dia pra se ter alegria! Tirando alguns pequenos erros técnicos, o show- desde o figurino até a seleção do repertório- foi definitivamente perfeito.
Como fogo e gasolina, o show termina nessa erupção de cores, alegria, música da boa, dança, e sorrisos... Muitos sorrisos! Uma verdadeira festa. Roberta Sá mostrou a que veio com esse show e definitivamente tem seu lugar garantido no hall das grandes estrelas da música brasileira.